Sentei no canto da toalha que
havíamos esticado, cruzei as pernas e estendi a coluna, inspirando
profundamente. Sentia o cheiro forte da essência doce que os meninos usavam ao
lado, o cheiro de canela se misturando com o sal da maresia e o cheiro do mar.
A noite estava calma, e o mar
também. Uma música qualquer daquelas que não costumo gostar tocava na caixa de
som, mas no meu fone de ouvido tocava uma das nossas. Daquelas, nossas.
Meu olhar se perdeu no vai e vem
das ondas, e naquela sensação engraçada que deixam as bochechas estranhas, de
salpico de água que pega a gente quando nos sentamos por ali.
Me lembrei da gente num lugar
como aquele, num dia em que não havia mais ninguém. Eu fiquei na água e você mais
distante, o olhar em mim e um sorriso no rosto que eu nunca poderia deixar de
retribuir. O tempo estava fechado e ventava muito, mas nenhuma de nós ligava pra isso, ou pra qualquer outra coisa além de nós mesmas.
Meu olhar se perdeu no céu. As
estrelas estavam lá, não muitas, mas estavam. Nossas estrelas. Brilhando na imensidão
calma que sempre fez a gente divagar.
E então, subitamente, eu me dei conta de sua presença – pálida, refletindo a imensidão escura e inquieta logo abaixo
dela. Estava quase cheia, e não tinha uma nuvem sequer por ali, bem diferente
daquele dia longínquo que antes eu me lembrava.
E da mesma forma súbita em que a
percebi, percebi também que aquilo, tudo aquilo, nunca mais seria nosso. Era
meu, e só meu – e era seu e dela.
O mar era dela, a areia fazendo
cócegas nos pés era dela. De vocês.
As músicas na beira do mar eram
dela. De vocês.
A praia era dela. De vocês.
A lua era dela. De vocês.
A paz era sua – e dela. De vocês.
E como algum dia eu poderia me
sentir em paz ali, de novo?
E as nossas estrelas pareceram absolutamente insignificantes, e não mais nossas, mas só minhas. Minhas, mas sem sentido de ser.
Um soluço escapou, e nunca vou
saber se foi meu ou das ondas, que chegaram à mesma conclusão.
(e a sensação de que algo me foi roubado parece que nunca vai passar)