O fogo na lareira crepitava animado, e o estalar da lenha soava como uma melodia rústica, algo primitivo. Misturava-se com o som não muito alto da música calma no ambiente, o violão dedilhado num ritmo gostoso e a voz em tons medianos proferindo palavras doces. As palavras doces se misturavam com o doce do vinho suave que jazia no fundo da garrafa quase vazia, assim como nas manchas das taças esgotadas onde a bebida há pouco estivera.
O tapete felpudo, tão branco quanto a neve que costumava cair lá fora naquela época do ano, nos acolhia durante aquela noite calma. Era quase uma rotina – a lareira, a música, o vinho e nós dois. Pernas entrelaçadas enquanto um sentava-se de frente para o outro. Vez ou outra os pés se balançavam no ritmo da música, outras vezes apenas roçavam-se, como que para ter certeza que o outro ainda estava ali – e sempre estávamos.
Nossas vozes saíam baixas, apenas o suficiente acima do sussurro para que o outro pudesse ouvir. Na maioria das vezes, para ser sincera, quem ouvia era você. Eu e a minha irritante mania de tagarelar sobre as coisas mais pueris: sobre o tempo, sobre os acasos, sobre os desencontros. Você e a sua infinita paciência em ouvi-las. E quando sua voz grave se atrevia a tomar o lugar da minha por vezes melodiosa, por outras esganiçada, vinha carregada daquela ternura que transbordava a cada palavra. Ela vinha trazendo consigo sempre, no fim de cada noite, as rimas mais belas.
E quando a embriaguez começava a tomar posse da racionalidade, ambos sabíamos que era o momento de silenciar. O silêncio é sempre sábio... E para nós, dizia mais que uma enxurrada de palavras. E não precisávamos sequer dos olhos para nos comunicar – eu apenas me deitava sobre suas pernas, e o toque sutil no meu cabelo dizia mais do que você sequer chegou a imaginar um dia. E a única coisa que eu desejava era que minha respiração calma e minhas risadas leves te respondessem a altura. O sono me vinha fácil, e os sonhos eram sempre serenos.
Naqueles dias que passávamos juntos, sozinhos na casa de inverno, nada mais existia. Eu tinha isso como certo para mim, e sabia que você mantinha o mesmo pensamento. Ali na nossa pequena redoma, no nosso refúgio, éramos apenas os dois. Sem títulos. Sem nomes. Éramos só o verbo do amor exclamado. Só aquela platonicidade aterradora, e o calor no peito – talvez vindo da lareira, mas muito provavelmente não –, que fazia-nos afogar a cada noite que passava.
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Apenas divagando no universo da pré-adolescência por alguns instantes...
O tapete felpudo, tão branco quanto a neve que costumava cair lá fora naquela época do ano, nos acolhia durante aquela noite calma. Era quase uma rotina – a lareira, a música, o vinho e nós dois. Pernas entrelaçadas enquanto um sentava-se de frente para o outro. Vez ou outra os pés se balançavam no ritmo da música, outras vezes apenas roçavam-se, como que para ter certeza que o outro ainda estava ali – e sempre estávamos.
Nossas vozes saíam baixas, apenas o suficiente acima do sussurro para que o outro pudesse ouvir. Na maioria das vezes, para ser sincera, quem ouvia era você. Eu e a minha irritante mania de tagarelar sobre as coisas mais pueris: sobre o tempo, sobre os acasos, sobre os desencontros. Você e a sua infinita paciência em ouvi-las. E quando sua voz grave se atrevia a tomar o lugar da minha por vezes melodiosa, por outras esganiçada, vinha carregada daquela ternura que transbordava a cada palavra. Ela vinha trazendo consigo sempre, no fim de cada noite, as rimas mais belas.
E quando a embriaguez começava a tomar posse da racionalidade, ambos sabíamos que era o momento de silenciar. O silêncio é sempre sábio... E para nós, dizia mais que uma enxurrada de palavras. E não precisávamos sequer dos olhos para nos comunicar – eu apenas me deitava sobre suas pernas, e o toque sutil no meu cabelo dizia mais do que você sequer chegou a imaginar um dia. E a única coisa que eu desejava era que minha respiração calma e minhas risadas leves te respondessem a altura. O sono me vinha fácil, e os sonhos eram sempre serenos.
Naqueles dias que passávamos juntos, sozinhos na casa de inverno, nada mais existia. Eu tinha isso como certo para mim, e sabia que você mantinha o mesmo pensamento. Ali na nossa pequena redoma, no nosso refúgio, éramos apenas os dois. Sem títulos. Sem nomes. Éramos só o verbo do amor exclamado. Só aquela platonicidade aterradora, e o calor no peito – talvez vindo da lareira, mas muito provavelmente não –, que fazia-nos afogar a cada noite que passava.
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Apenas divagando no universo da pré-adolescência por alguns instantes...
bonitinho :p
ResponderExcluirQuero uma casa de inverno ._.
ResponderExcluirainnn *---------------*
Suave e romantico na medida certa! Parabéns!
ResponderExcluirlembranças do que não aconteceu ainda são tão doces. <3
ResponderExcluirq diferente!
ResponderExcluirolha, acho q a descrição ficou mto boa ;D
essa mistura de sentidos e os detalhes, mas sem exageros (como naquele infinito texto da Goodrich) me encantaram
Ironia do destino, agora me lembrei que tinha feito um texto nosso tendo como tema a neve. A música de fundo se chamava Ice Place, rs.
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