terça-feira, 28 de setembro de 2010

; a movie script ending

        Sempre que eu volto, o cheiro continua o mesmo do sempre em que me recordo, seco e salgado e incômodo. O ar é pesado e carregado, e ainda faz os mesmos sons; prelúdio de algo horrível que virá a acontecer; ou talvez apenas um eco distorcido do que já aconteceu. É, deveriam ser os ecos. Tudo é escuro e cinza, e há uma névoa difusa do tipo daquelas em finais de filme de terror.
        Nas portas das lojas, pessoas vazias se acumulam como pequenas formigas correndo para o abrigo na iminência de chuva. Ao redor delas aparecem as palavras mais sujas (aquelas com asteriscos dentro vogais), as sensações mais sujas nas expressões mais sujas. Ao espreitar pela janela enxerga-se o mesmo tipo fútil de ser humano à venda, preços em inflação. A procura é alta, assim como a estupidez de cada um deles.
        Alguns de nós não aguentam mais – já fazia muito tempo que não sentíamos nada, e nada é ruim. Nada é vago, oco. Nada é inseguro e assustador. E o ser humano, de certa forma, é programado para não gostar do nada. Por isso a impaciência em meio à lacuna da consciência, em meio as palavras horríveis e dos pensamentos contaminados.
        Há um grito profundo, uma campainha alta e então as pessoas acordam, saindo do estado frívolo em que se encontravam, entrando em alerta, voltando à consciência que não tinham há muito tempo (muitas delas nem sequer se lembravam de um dia ter tido uma). Risadas ecoam, estão todos animados. Sente-se o cheiro do alívio. Como se estivessem acabado de ser salvos da forca.
        Depois de parecer ter estado inconsciente por décadas, despertei. Estava em uma estrada longa, cheia de árvores ao redor. Uma brisa morna passando por meu rosto, como se dissesse que tudo ficaria bem. Ouço pássaros e água caindo, caindo como o sol à minha frente que dizia seu silencioso adeus, deixando lugar para a lua imperar por sua metade do dia – a noite.
        Um farfalhar de tecido me chama a atenção e me viro bruscamente, assustada – lá está você. Com toda a sua beleza não tão pronunciada, e aqueles olhos que são capazes de acalmar o maior dos meus medos. Sinto o calor da alegria, o cheiro do amor e imediatamente me coloco a sorrir também. Eu me lembro – não sou um dos vazios. Não mais.
        O mundo explode, nada mais faz sentido ao mesmo tempo em que entendo tudo. Uma chuva não convidada, mas bem vinda, despenca sobre nós. Lava o resto da inconsciência, lava os pecados e os sentimentos ruins. E o seu sorriso traz a paz, me acalenta. O silêncio é o nosso aliado, assim como aquela troca de olhares.

        Agora sabemos que as palavras eram verdadeiras nas mais suculentas músicas...

        FIM.
        Créditos finais.


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Texto baseado numa música do Death Cab.
Beijos! ;)

3 comentários:

  1. essa música é foda e o texto ficou foda, combinou \o/ adorei <3

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  2. não conheço a música, mas
    se a inspirou assim deve ser mto boa!

    consegui visualizar as cenas *O*

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  3. não conheço a música +1
    mas só o texto em si ficou mto foda *--*

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